Sonata de
veludo
Quando a morte vier, venha depressa:
escusa de fazer-se anunciar;
basta que empurre a porta e que apareça
com pés de lã, para eu não me assustar!
Se acaso puder ser, venha à tardinha,
após um dia de trabalho intenso,
abstendo-se de usar a campainha,
cujo ruído incómodo dispenso.
Quando a morte vier, que eu não dê conta,
que eu não lhe sinta o bafo nem sequer
lhe escute os passos leves de mulher!
Abeire-se de mim suavemente
e leve-me em seus braços de repente,
pois tenho desde há muito a mala pronta!
João de Castro Nunes
Sem comentários:
Enviar um comentário