Amadas cinzas
No
mesmo ossário, juntos, lado a lado,
ficaste,
filho meu, com tua mãe
que
tanto amei, que demonstrava bem
quanto
gostara de te haver gerado!
Tínheis
os dois a mesma compostura,
a
mesma forma senhoril de andar,
idêntica
maneira singular
de
fazer realçar vossa figura.
Dobradamente
acicatado agora
pelo
cruel espinho da saudade
que
sem parar meu coração devora,
sempre que em cada dia vos visito
no campo
santo aos dois em paridade
por
ambos rezo… juntos no infinito!
João
de Castro Nunes
Coimbra,
3 de Janeiro de 2013.
As cinzas, poeta, tocamos nelas em vida, ainda antes de serem fúnebres. É por isso que o homem é sempre maior que o Universo, é o único a quem são dadas a provar as próprias cinzas e porque sabe não apenas que é finito, mas porque sabendo-se finito sabe amar. Tudo o que as cinzas trazem escrito desde a beleza até à dor não passaria de um absurdo se não tivesse em si uma das manifestações ilimitadas do Infinito. Essas amadas cinzas raiam pois com uma luz deslumbrante, que sobe como um serafim em fogo para se revestir nas vestes da imortalidade porque já nasceram com a cumplicidade da mãe e de algo ainda maior. A terra e o ar que as cobre são da casa de todos os mistérios.
ResponderEliminar"Nemo sibi vivit, aut sibi moribur"