quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


                            Amadas cinzas

 

                   No mesmo ossário, juntos, lado a lado,

                   ficaste, filho meu, com tua mãe

                   que tanto amei, que demonstrava bem

                   quanto gostara de te haver gerado!

 

                   Tínheis os dois a mesma compostura,

                   a mesma forma senhoril de andar,

                   idêntica maneira singular

                   de fazer realçar vossa figura.

 

                   Dobradamente acicatado agora

                   pelo cruel espinho da saudade

                   que sem parar meu coração devora,

 

                  sempre que em cada dia vos visito

no campo santo aos dois em paridade

                   por ambos rezo… juntos no infinito!

 

                            João de Castro Nunes

 

                   Coimbra, 3 de Janeiro de 2013.
                                                                     

                  

1 comentário:

  1. As cinzas, poeta, tocamos nelas em vida, ainda antes de serem fúnebres. É por isso que o homem é sempre maior que o Universo, é o único a quem são dadas a provar as próprias cinzas e porque sabe não apenas que é finito, mas porque sabendo-se finito sabe amar. Tudo o que as cinzas trazem escrito desde a beleza até à dor não passaria de um absurdo se não tivesse em si uma das manifestações ilimitadas do Infinito. Essas amadas cinzas raiam pois com uma luz deslumbrante, que sobe como um serafim em fogo para se revestir nas vestes da imortalidade porque já nasceram com a cumplicidade da mãe e de algo ainda maior. A terra e o ar que as cobre são da casa de todos os mistérios.

    "Nemo sibi vivit, aut sibi moribur"

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