O crivo
Para
o meu filho Manuel
Seja qual for a maneira
de abandonarmos a vida,
todos temos à partida
de passar pela peneira
que reterá por igual
todos os nossos pecados
por forma a santificados
chegarmos ao tribunal
que nos há-de avaliar
em função das qualidades
que face às autoridades
ditarão… nosso
lugar,
pois as faltas cometidas
serão morrendo omitidas!
João de Castro
Nunes
Tão tenebrosa é a morte,
ResponderEliminarque por si só purifica
o que te coube por sorte
na vida que cá te fica.
Pareceu-me ter-te ouvido murmurar ontem esta quadra. Como tenho bom ouvido, ficou.
Tenho mil quadras no ouvido que fui guardando ao longo de sessenta anos.
Quando me recordo de uma e me sai da boca, assino-a eu.
Perdão se por vezes elas não me saem já com a pureza original, mas um pouco desconsertadas.
Ora poeta,passamos pelo crivo ainda em vida e nesse sentido é que nos calha a porta estreita. Passamos por ela a sós, de mãos vazias. Nem tribunal, nem juiz. Somos nós que nos julgamos até o derradeiro suspiro, com a lucidez maior que nos é proporcionada por instantes, como uma graça. Faz todo o sentido termos a liberdade de escolha até ao fim. Aí é que não temos escolha mesmo, estamos presos à nossa liberdade.
ResponderEliminarDe outro jeito:
ResponderEliminarA morte é tão tenebrosa
que só por si purifica
qualquer falta mais gravosa
que perdoada cá fica!
JCN
EliminarOs crivos, cara Senhora,
tanto servem para a vida
como também para a hora
destinada à despedida!
JCN
Ainda hei-de aprender a fazer quadras.
ResponderEliminar
ResponderEliminarUma quadra para ser
de excelente qualidade
não pode deixar de ter
um ar de facilidade!
JCN
Tem de ter mais qualquer coisa, o poeta sabe bem. O fácil nem sempre é de qualidade!
ResponderEliminarNada é mais difícil, Senhora, do que a aparente... facilidade! JCN
ResponderEliminar