Dentro da curva
Aproxima-se a morte a largos passos
para em seus braços me levar a Deus
atravessando os siderais espaços
e às minhas ilusões dizendo adeus.
Sinto-lhe os dedos a bater-me à porta
chamando-me de fora com carinho
naquele tom de voz que não comporta
delongas para o início do caminho.
Saudades levo deste mundo, imensas,
embora muitas vezes salpicado
me visse de baixezas e de ofensas.
Tive meus dissabores algo amargos,
mas em compensação, por outro lado,
dei pleno cumprimento aos meus encargos!
João de Castro Nunes
Na sua ''missão'' de semear o amor e o encanto em seu redor, nem a morte o poeta deixa furtar-se à sua lira.
ResponderEliminarNa sua soberana ''desordem'', o mais provável é, todavia, que a morte puna o poeta com a vida eterna.
Sempre que canta a morte, consagra o poeta a vida.
''Saudades levo deste mundo.''
Na vida assalta-nos a saudade da morte e do que aí moram. Na morte assaltar-nos-á a saudade da vida.
Os poetas não morrem. Ao cantá-la, esconjuram a morte.
ResponderEliminarTenho na lira uma corda
só para a morte cantar:
ocupa o sítio da borda
por ser da morte o lugar!
JCN
ResponderEliminarTodos os dias converso
com a morte longas horas:
quando me deito a desoras
faço-lhe um último verso!
JCN
Mas poeta, tem tanto tempo para a eternidade! Por ora, faça antes versos à vida que tem também centelhas de divindade. A grandeza do poeta reside em saber projectar sempre o caminho do inacabado longe da degradação da esperança, porque a morte é apenas uma alma que se eleva. Não esqueça que agora, mesmo durante o Calvário, já terão tocado antecipadamente os sinos da Páscoa. Temos pois tempo para a eternidade poeta, temos tempo. E não deixe de me encantar com os seus belos sonetos.
ResponderEliminarEm duas quadras pode amalgamar-se todo o génio do poeta e toda potência da poesia.
ResponderEliminarPor vezes rendilha-se como o filigrana nas mãos do ourives.
Outras brota do cadinho já em obra, ou da fonte como cristal.
E porque de morte se fala, ocorre-me uma cantiga popular.
‘’Morte que mataste lira
mata-me a mim que sou teu.
Mata-me com os mesmos ferros
Com que a lira morreu.
A Lira por ser ingrata
tiranamente morreu.
A morte a mim não me mata,
firme e constante sou eu ‘’
Sem autor senão a suposta alma pátria, bem demonstra como a poesia é um dom.
Morre a lira, o poeta permanece.
ResponderEliminarPara Marta
Cantar a morte, Senhora,
pode ser uma maneira
de torná-la sedutora
e mesmo até prazenteira.
Eu gosto de imaginá-la
bem vestida, bem trajada,
em carruagem de gala,
como se fosse uma fada.
Ela é no fundo o caminho
que me abrirá nesta idade
com requintes de carinho
o acesso à eternidade.
Embora o diga em segredo,
ela não me causa medo!
João de Castro Nunes
Um aplauso ao Manuel!
ResponderEliminarOutro de pé, a si poeta, de novo encantada, dois sonetos para mim é uma semana ganha!
Ora assim é que eu gosto!
Abraços!
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ResponderEliminarEnquanto a morte não chega,
ergamos a nossa taça
com vinho da nossa adega
ao amor que nunca passa!
JCN
Ao amor que nunca passa!
ResponderEliminarMais sorrisos, poeta!