Pelo amor que me deste e que eu te dei,
amor sem par, sem peso nem medida,
marcado com punção de ouro de lei,
foi como um sonho, amor, a nossa vida!
Foram diversos anos que passaram
mais rápidos acaso do que a luz,
seis décadas que nos transfiguraram
em cireneus levando uma só cruz.
O sonho que vivemos não findou:
com algum exagero ou fantasia
direi que só agora começou.
Há-de no céu continuar um dia
quando o Senhor, que nos desapartou,
quiser que eu vá fazer-te companhia!
João de Castro Nunes
1. "JOÃO DE CASTRO NUNES é um homem da cultura, que como tal se afirmou no ensino universitário, e é também um grande poeta da língua portuguesa.
ResponderEliminarA sua enorme sensibilidade rebrilha nos seus versos. Cultiva o soneto à boa maneira dos clássicos, essa forma de Poesia em que a liberdade está muito longe de ser total. E apesar disso, a originalidade está lá, em cada um deles, o estilo que criou deixa-nos reconhecer o autor logo que lemos a primeira quadra, e a mensagem que cada um nos transmite – porque há, sim, uma mensagem em cada um dos seus sonetos - é sempre límpida, compreensível, fluida.
Não deve haver quem o iguale, muito menos o exceda, quando exalta o amor à Mulher da sua vida, a sua Esposa e Mãe dos seus oito filhos. E esse amor não foi uma paixão frustrada, muito menos um fogo que ardeu e se consumiu, ou que não teve tempo de se desgastar porque as suas circunstâncias lhe puseram fim rapidamente; há génios da Poesia que cantaram amores desse tipo e não deixaram de merecer a nossa admiração e o nosso profundo respeito. Mas o amor que ele imortaliza nos seus sonetos foi constante, sereno e viveu-o seis décadas desde a juventude; aliás continuou a vivê-lo e vive-o hoje para além da morte com a mesma ou ainda maior intensidade.
Para quem porventura os não conheça, permito-me transcrever dois dos seus sonetos (sem lhe pedir autorização, é certo, mas são apenas dois entre as centenas que ele compôs!). Fui buscá-los ao livro "Orfeu resignado" (edição de autor, publicada em Arganil em 2007). Como a maioria das suas obras são edições de autor e por conseguinte pouco distribuídas, sugiro uma visita ao site do Movimento Cidadãos por Góis onde João de Catro Nunes colabora regularmente.
Não quero deixar de assumir que é perante o sentir de homens como ele que tenho de acreditar no género humano". J.M.S. SIMÕES-PEREIRA (ZÉ-MANEL-POLIDO) in "Convicções e Cepticismo".