sábado, 12 de janeiro de 2013


                      Dentro da curva

 

                   Aproxima-se a morte a largos passos

                   para em seus braços me levar a Deus

                   atravessando os siderais espaços

                   e às minhas ilusões dizendo adeus.

 

                   Sinto-lhe os dedos a bater-me à porta

                   chamando-me de fora com carinho

                   naquele tom de voz que não comporta

                   delongas para o início do caminho.

 

                   Saudades levo deste mundo, imensas,

                  embora muitas vezes salpicado

                   me visse de baixezas e de ofensas.

 

                   Tive meus dissabores algo amargos,

                   mas em compensação, por outro lado,

                   dei pleno cumprimento aos meus encargos!

 

                            João de Castro Nunes

                   

10 comentários:

  1. Na sua ''missão'' de semear o amor e o encanto em seu redor, nem a morte o poeta deixa furtar-se à sua lira.
    Na sua soberana ''desordem'', o mais provável é, todavia, que a morte puna o poeta com a vida eterna.
    Sempre que canta a morte, consagra o poeta a vida.
    ''Saudades levo deste mundo.''
    Na vida assalta-nos a saudade da morte e do que aí moram. Na morte assaltar-nos-á a saudade da vida.
    Os poetas não morrem. Ao cantá-la, esconjuram a morte.

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  2. Tenho na lira uma corda
    só para a morte cantar:
    ocupa o sítio da borda
    por ser da morte o lugar!

    JCN

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  3. Todos os dias converso
    com a morte longas horas:
    quando me deito a desoras
    faço-lhe um último verso!

    JCN

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  4. Mas poeta, tem tanto tempo para a eternidade! Por ora, faça antes versos à vida que tem também centelhas de divindade. A grandeza do poeta reside em saber projectar sempre o caminho do inacabado longe da degradação da esperança, porque a morte é apenas uma alma que se eleva. Não esqueça que agora, mesmo durante o Calvário, já terão tocado antecipadamente os sinos da Páscoa. Temos pois tempo para a eternidade poeta, temos tempo. E não deixe de me encantar com os seus belos sonetos.

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  5. Em duas quadras pode amalgamar-se todo o génio do poeta e toda potência da poesia.
    Por vezes rendilha-se como o filigrana nas mãos do ourives.
    Outras brota do cadinho já em obra, ou da fonte como cristal.
    E porque de morte se fala, ocorre-me uma cantiga popular.

    ‘’Morte que mataste lira
    mata-me a mim que sou teu.
    Mata-me com os mesmos ferros
    Com que a lira morreu.

    A Lira por ser ingrata
    tiranamente morreu.
    A morte a mim não me mata,
    firme e constante sou eu ‘’

    Sem autor senão a suposta alma pátria, bem demonstra como a poesia é um dom.
    Morre a lira, o poeta permanece.

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  6. Para Marta

    Cantar a morte, Senhora,
    pode ser uma maneira
    de torná-la sedutora
    e mesmo até prazenteira.

    Eu gosto de imaginá-la
    bem vestida, bem trajada,
    em carruagem de gala,
    como se fosse uma fada.

    Ela é no fundo o caminho
    que me abrirá nesta idade
    com requintes de carinho
    o acesso à eternidade.

    Embora o diga em segredo,
    ela não me causa medo!

    João de Castro Nunes

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  7. Um aplauso ao Manuel!

    Outro de pé, a si poeta, de novo encantada, dois sonetos para mim é uma semana ganha!

    Ora assim é que eu gosto!

    Abraços!

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  8. Enquanto a morte não chega,
    ergamos a nossa taça
    com vinho da nossa adega
    ao amor que nunca passa!

    JCN

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  9. Ao amor que nunca passa!

    Mais sorrisos, poeta!

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