domingo, 13 de janeiro de 2013


                              A sedutora

 

                   A morte anda connosco de mão dada,

                   sentando-se connosco nos jardins,

                   rosas colhendo, cravos e jasmins,

                   qual noivo a par da sua namorada.

 

                   Nunca o rosto lhe vi, mas imagino

                   que alguns encantos deve ter, perante

                   o modo como certo mendicante

                   se lhe entregou festivo como um sino.

 

                   Quantos heróis nos campos de batalha

                   Dela se cativaram… permitindo

                   que o peito lhes crivassem de metralha!

 

                   Eu quero crer, sem morbidez alguma,

                   que seu semblante deverá ser lindo

                   e seu contacto… leve como espuma!

 

                            João de Castro Nunes

 

2 comentários:

  1. É verdade, poeta, ninguém conhece o rosto da morte. Raros são os que sabem dar-lhe a mão com uma serenidade extraordinária. Um presente dado a quem soube viver,a quem soube sempre que aquela parcela do indizível, do inefável e do misterioso toma o nome da claridade assim que passar a porta estreita.

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  2. Mas o que eu quero realmente dizer e não encontro as palavras é em como é impressionante ler este soneto num sentido completamente diferente. Carregado de vida. A morte habilmente personificada. Raro! É mesmo raro, poeta!

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